Capítulo 5 - Quase Morto Por Um Armário


            Suas ideias e teorias tinham se esgotado. Por mais que tentasse, não conseguiu pregar no sono, talvez convencendo a si mesmo de sua perfeita sanidade mental. Em algumas vezes, no entanto, ele não tinha tanta certeza disso, especialmente quando a cena dos ratos se convertendo em suco era evocada em sua mente, ou a ninhada de roedores na sua mochila se desfazendo em líquido viscoso, escorrendo por todo o corredor.
            Depois de travar um monólogo maçante, decidiu o que era real: a física, química ou fosse o que fosse, poderiam explicar o fenômeno, ainda que não pudessem explicar o estranho aparecimento da carta de um tal Sanguinetti.
            Olhou a si mesmo pelo espelho do banheiro, encarando dois olhos verdes e fundos, cansados de lutar contra a tênue luz do abajur que ficara aceso durante toda a noite ao amanhecer. Charlie pensou que, com aquela aparência, poderia até simular uma gripe e escapar do compromisso do segundo dia de aula.
            Mas a agonizante curiosidade ainda o rondava. O que acontecera naquele dia, era o que precisava saber. Lavou o rosto, deixou a ducha fria ligada sob os seus ombros por alguns minutos, escovou os dentes e correu até a cozinha. Pegou uma maçã e beijou a mãe no rosto, enquanto bagunçava os cabelos já desarrumados do irmão.
            - Hey, você já vai? – perguntou Andrew.
            - Filho, o seu lanche – avisou a mãe. Lauren continuava bela com o mesmo sorriso de dez anos atrás que Charlie tão bem conhecia.
            - Sim, e não, obrigado – respondeu ele às duas perguntas simultâneas, lançando a mochila nas costas, aproveitando-se da ausência do pai.
            O relacionamento entre Michael Logan e o filho mais velho nunca foi dos melhores. Nenhum dos dois fazia alguma questão de consertar esse relacionamento avariado. Não era verdade que não se amavam. Muito pelo contrário, Michael se preocupava com o rapaz mais do que com a própria vida. Mas, algumas vezes, relacionamentos não são convencionais e agradáveis. Não é diferente entre pai e filho.
            - Esp... Espera! – gritou Andrew, correndo atrás do irmão – não está se esquecendo de nada?
            - O que... Ah! – ele esperava que esquecessem disso. Mas seria impossível. Era sua família, afinal.
            Charlie sorriu para si mesmo, satisfeito ao receber o abraço do irmão. Normalmente essa atitude seria desaprovada por Charlie, mas, dadas às circunstâncias, ele decidiu não se importar dessa vez.
            - Feliz aniversário – riu Andrew.
            Antes que pudesse responder, Charlie foi surpreendido por um beijo no rosto, e um abraço caloroso de sua mãe.  
            - Querido, não demore – pediu a mãe – vamos jantar fora hoje, ok? Você merece.
            Ele assentiu. Definitivamente, seu pai não concordava.  
           
            Quando alcançou o jardim, percebeu que o irmão vinha logo atrás. Era normal ter Andrew como sua sombra, mas, desde o seu ingresso na NY High School, o irmão mais novo meio que estava mais apegado, além da conta.
            - Andrew, você não tem amigos, não? – Charlie perguntou, embora não fosse uma pergunta ofensiva.
            - E você? Tem algum?
            Touché.
            Charlie apenas riu, olhando o céu ainda coberto por nuvens densas. Saíra mais cedo que de costume, e sua mente começava a despertar outra vez, fazendo-o relembrar das dúvidas que o assolava na noite anterior.
            - Er... Andrew. – Charlie parou, olhando o irmão – você viu algo de diferente na escola... Ontem?
            - Ontem? – Andrew fez uma careta, como quem tenta se lembrar – ah, sim. Um cara parrudo humilhou meu irmão mais velho no meio do pátio da escola. Isso conta?
            - Sabe, eu preciso te bater mais vezes. Você está perdendo o respeito.
            Os dois riram divertidos, Charlie deu um tapa fraterno no ombro do irmão e continuaram a caminhada. Tiveram aquela habitual conversa, primeiro dia, alguma garota em especial, coisas do gênero.
            Chegaram ao ponto de ônibus e esperaram pela carona. No caminho, apenas o silêncio, o que fazia Charlie pensar um pouco mais. Determinou seu roteiro e como iria resolver o seu problema. Não tinha muitas pessoas a quem recorrer.
           
            Charlie estava de frente para o seu armário, encarando-o. Ele se lembrava muito bem de haver um calombo na porta. Quando chegou, porém, estava impecável, até mais lustroso que os demais. O número 207 parecia maior e mais refinado, ainda que ninguém se desse ao trabalho de perceber. “, os devidos ajustes no armário 207 da NY High school foram devidamente arranjados.” E, afinal, quem era Northon Galahan? Seria apenas coincidência o sobrenome? Charlie abriu o cadeado vagarosamente, hesitando encontrar algo desagradável. “Como um band-aid”, pensou ele, “rápido, sem delongas”.
            Abriu. Não havia nada de mais. Seus livros estavam a mesma bagunça, ainda havia cheiro de suco de uva, e nenhum rato saltara do armário. Pegou a bolinha de papel que jogara ali no dia anterior. Abriu-a, pensativo. No canto da folha, estava assinado Charlie Caesar Galahan.
            - Ah, claro. Isso faz sentido – pensou consigo mesmo.
            Quando Charlie começou a escrever, ainda com doze anos, decidiu adotar um nome fictício, um pseudônimo. Charlie. C. Galahan. Ele pensou: uma pessoa que não existe não precisa se preocupar em contar a verdade. Isso o ajudou a superar seus problemas, embora outros parecessem estar aflorando.
            O rapaz devolveu o papel ao armário e, pegando os livros que precisava, fechou-o. Parecia claro, agora. Drue estava pregando uma peça no garoto. Era esperado, já que as provocações estavam se tornando monótonas e Charlie não correspondia da forma como Drue esperava.
            “Ele abriu meu armário, mexeu nas minhas coisas e fez essa brincadeira idiota”. Mas ainda havia um problema. Drue não poderia ter reduzido os ratos à extrato de uva... Ainda que ele tivesse força pra isso.
            As evidências racionais deram a ele um pouco mais de paz de espírito. Finalmente, foi para a sua sala, sentindo-se melhor. Finalmente, poderia aproveitar o seu aniversário com a família. Sem mais.

            No intervalo, acabou aceitando a companhia do irmão. Um amigo de Andrew, Bob Frozar, acompanhou os dois. Sentaram-se juntos no refeitório, mas Charlie não falou muito. Estava incomodado em ver o irmão se dar tão bem com as pessoas, enquanto ele, depois de três anos naquela escola, não podia se gabar de um único amigo que valesse a pena contar.
            O sinal tocou, e cada um tomou sua direção. Charlie, como de costume, evitava encontros desconfortáveis com Drue. O valentão estava no corredor conversando com uma garota. Ele nunca repetia de namorada, era uma espécie de lei do mais forte, ou seria mais selvagem...
            Assim que o corredor esvaziou, Charlie correu para o seu armário. Teria aula de História no próximo tempo, uma de suas preferidas. Iria aprender sobre os mouros na Península Ibérica.
            Girou o cadeado, usando a senha, e abriu. O que aconteceu foi tão rápido que, por muito pouco ele não pode escapar.
            A primeira coisa que viu, por uma fração de segundo, foram dois olhos cintilantes dentro do armário agora coberto por uma sombra incomum em seu interior. Na fração de segundo seguinte, uma bola de fogo projetou-se em sua direção, como um cometa. Charlie teve tempo apenas de erguer o livro grosso, enquanto um rosnado ecoava pelos corredores, vindo de dentro do armário.  
            O impacto da bola de fogo com o livro o repeliu contra a parede, atingindo as costas com violência. O livro caiu a dois metros de distância, completamente chamuscado, enquanto algumas páginas arrancadas no impacto queimavam timidamente.
            Sua cabeça estava girando, o corpo trêmulo e o foco de visão fora de órbita. O que estava acontecendo? Realmente tinha acontecido? Chacoalhou a cabeça, tentando se desfazer da visão turva. Sentiu a ponta de seus dedos arderem, e seu coração batendo ligeiro, enquanto todo o seu corpo era embebido de adrenalina. Estava eufórico.
            Levantou-se, assustado, ainda encarando o armário enlouquecido. Aqueles olhos... era enormes e ferozes, ainda que não fossem necessariamente apavorantes. Havia algo de extremamente familiar neles. Uma coisa era certa: suas preocupações haviam voltado e, definitivamente, aquilo não era obra de Drue. Ele não seria tão criativo a esse ponto.

            Esperou, ansiosamente, o término das aulas. Tinha uma ideia em mente. Charlie não confiava muito na internet, por isso, pensou em conseguir respostas por meio de livros. Só não sabia por onde começar, ou como.
Não se sentiu a vontade jogando o livro de História fora, ainda que, por muito pouco, ele não entrara em combustão. Queria ter uma prova concreta de que não era Charlie o louco naquela situação, e sim o seu armário, ou o tal de Sanguinatti, ou mesmo Northon Galahan, fossem quem fossem.
            Estava correndo pela escadaria do pátio, quando ouviu a voz urgente do irmão:
            - Charlie! Char!
            Charlie freou, impaciente. Virou-se e, sem delongas, avisou:
            - Não tenho tempo para nenhuma brincadeira, ok? Precisamos ir à biblioteca.
            - Mas... Nós não podemos atrasar.
            - É importante – Charlie falou – aconteceu... Uma coisa. E eu preciso saber... Por quê.
            - Ah, certo... Não entendi nada.
            - Apenas vá pra casa, Andrew. Nos vemos depois, ok?
            - Uma ova! – o irmão mais novo se queixou – eu vou com você. Hoje é seu aniversário.
            - Você vai vir comigo porque hoje é meu aniversário. Isso, definitivamente, não é um presente.
            - Rá, engraçado você, irmão – falou Andrew, veemente – vamos logo. Ou o papai vai arrancar o nosso couro.
            - O meu, você quer dizer.
            - Você entendeu o que eu quis dizer, Charlie – falou Andrew, revirando os olhos.
            Os dois seguiram o mesmo caminho. Atravessaram a calçada e pegaram um ônibus que levava ao Centro.
           
            As ruas estavam mais movimentadas do que o normal, ou talvez fosse o fato de Charlie estar mais atento aos acontecimentos à sua volta. Desde o momento em que recebera a carta, começou a se sentir perseguido. Andrew logo mostrou não ser tão ingênuo quanto parecia.
            - Quem é Sanguinetti, Char? – perguntou.
            Charlie parou, sem olhar o irmão diretamente nos olhos. Não queria demonstrar nenhum sinal de preocupação. Mas Andrew o conhecia muito bem.
            - É aquela carta, não é?
            - Não se preocupe, Andy – pediu o irmão mais velho – acredite, a carta é o menor dos meus problemas.
            De fato, havia problemas maiores, como uma bola de fogo vinda do nada tentando matá-lo. Não era como se ele estivesse mentindo.
            - Por que a biblioteca? – perguntou o mais novo, novamente – Aposto que não é trabalho de escola.
            - Vou pesquisar algumas coisas. Talvez Helena me ajude.
            Eles atravessaram a rua e subiram as escadas de cimento.
            A biblioteca estava mergulhada em um silêncio agourento. A claridade da tarde entrava timidamente pelas janelas imensas, e não se podia ouvir nada a não ser os próprios pensamentos dentro daquela construção sólida e antiga. A grande porta de madeira na extremidade da sala, permitida apenas aos funcionários, se abriu com estrondo, como sempre. Era impossível abrir aquela pesada porta sem fazer barulho. Por ela passou Helena.  
            - Ali está ela – avistou Andrew a garota que Charlie procurava.
            Helena estava ligeiramente mais alta. Os cabelos continuavam os mesmos, com o mesmo tom escarlate. Os olhos sagazes e o rosto rosado, mas havia um tom de maturidade em sua feição perfeitamente desenhada.
            - Cara, não acredito que você não a chamou pra sair – murmurou Andrew.
            - Cala a boca, idiota. Aliás, some daqui por alguns minutos. Vai ler uma historinha, pode ser?
            Andrew fez uma careta, mas cedeu ao pedido do irmão. Passou pelo balcão, naquele momento vazio. Charlie não avistou o tio Munphus em lugar algum. Isso era bom.
            A garota se aproximou com um sorriso simpático.
            - Alô, Charlie – ela acenou – aquele ali é o seu irmão? Como ele cresceu, não?
            - Continua sendo o mesmo idiota – falou Charlie, arrependendo-se logo em seguida. Três anos depois, e ele ainda não tinha perdido o hábito de não falar besteiras perto da garota – ah, deixa pra lá.
            - Então? É uma visita informal ou precisa de alguma ajuda em mais uma pesquisa?
            Nenhuma opção estava em discussão. Primeiramente, porque Charlie não estava disposto a conversar quando tinha algo mais importante em mente. Em segundo lugar, ele nunca precisou, realmente, de ajuda nos trabalhos. Era apenas uma desculpa.
            - Lembra-se quando você me disse que seu avô tem uns livros... Ahn, especiais?
            Helena o encarou com desconfiança.
            - Algo sobre eventos inexplicáveis que o homem não compreende?
            Helena pigarreou, disfarçando razoavelmente bem a sua preocupação.
            - Está pesquisando fantasmas, Charlie?
            - Não é isso. Eu, han... Queria pesquisar sobre isso. Uma vez o seu tio disse possuir um acervo de livros com coisas do gênero.
            - Meu tio é fanático com livros, Charlie. Ele trata as obras dos Irmãos Grimm como se fossem uma Mona Lisa dos livros.
            - Será que ele não poderia me deixar dar uma olhada?
            Ela estava prestes a responder, quando foi interrompida por um pigarro que pareceu mais um tiro de espingarda.
            Charlie sentiu uma mão pesada pousar em seu ombro com certa agressividade.
            - Ernie! – chiou Helena – não seja idiota!
            Charlie virou-se, encarando um rosto quadrado cheio de sardas, com cabelos ruivos e sobrancelhas grossas.
            - Oi, Ernesto – Charlie falou, tentando soar simpático, mas sua voz falhou, entregando a sua hesitação.
            Ernesto era o primo de Helena, filho do bibliotecário. Há um ano o rapaz tinha se mudado para Manhattan e, naquele momento, estava bancando o irmão mais velho.
            - Helena tem muito o que fazer – ele disse – não pode vir aqui e atrapalhar o trabalho dela.
            Charlie jamais imaginou que pudesse existir alguém tão ranzinza e miserável quanto o bibliotecário Munphus, mas, após conhecer Ernesto, descobriu estar redondamente enganado.
            - Não, tudo bem, eu só estava...
            Charlie estava prestes a completar sua frase, quando encarou Helena. Ela acenou negativamente, disfarçando sua leve aflição. Um aceno rápido que apenas Charlie percebeu. Concluiu que não deveria completar sua frase com a verdade nua.
            - Pedindo informação sobre livros de pesquisa – Charlie completou, enfim, não revelando nada, porém, sem mentir.
            Helena assentiu, aliviada.
            - Ok, só não atrase o serviço, Helena. Meu pai não gosta de distrações – dizendo isso, Ernesto lançou um olhar fulminante em direção a Charlie e voltou ao seu trabalho.
            Quando Charlie estava pronto a falar, Helena o interrompeu.
            - Bom te ver, Charlie, mas agora tenho que ir. Muito trabalho. Ah, feliz aniversário! – ela disse, dando as costas e lançando um último aceno com a mão.

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            - Resolveu o seu problema, irmão? – perguntou Andrew, quando já estavam sentados no ônibus.
            Andrew carregava um exemplar do livro Tuareg, o primeiro que Charlie lera ao se mudar para Manhattan. Dica do irmão mais velho.
            - Na verdade, não. Eu deveria imaginar. Onde eu estava com a cabeça quando decidi vir aqui? É claro que aquele velho não tem nada que possa me ajudar.
            - Ajudar? – o mais novo encarou o irmão, agora preocupado – cara, você está me assustando com todo esse mistério. Você não está envolvido em nada errado, está?
            - Não seja idiota! Eu passo a maior parte do meu tempo na biblioteca ou no meu quarto, como posso ter tempo para me envolver com... Problemas?
            Boa pergunta. Infelizmente, Charlie não fazia a menor ideia de como encontrar a resposta.
            Desde o momento em que entraram no ônibus a mente de Charlie estava empenhada em bolar um plano. Muitas ideias vieram a sua cabeça. Se livrar do armário. Mas aí seria um problema. E se outra pessoa se machucasse? Contar o que realmente estava acontecendo estava fora de cogitação, ou sua fama de mentiroso voltaria, ainda que gostasse da ideia de voltar para Nova Jersey. Por fim, Charlie tomou uma decisão.
            - Andrew, vou precisar da sua ajuda essa noite.
            - Minha ajuda? – Andrew o encarou, confuso.
            - Essa noite eu vou dar uma passada na escola, sabe... Pegar alguns trabalhos no meu armário.
            - Temos o jantar hoje, lembra-se? Seu aniversário.
            - Nós iremos ao jantar, chapa. Não se preocupe quanto a isso. Pretendo ir depois.
            O silêncio tomou conta. Andrew, ainda que fosse o mais novo, não era mais uma criança e, ao que parecia, Charlie parecia não ter se dado conta.
            - A escola vai estar fechada – informou Andrew, estreitando o olhar – qual é a sua, Charlie? O que você ta pretendendo?
            - Tudo o que eu preciso que você me ajude. O papai vai ficar acordado essa noite, na sala, redigindo a matéria para o jornal. – Charlie pôs-se a falar, pouco se importando com a resposta do irmão – Nesse momento, você vai distrair o papai, abrindo caminho pra mim. Eu saio pela cozinha, e fica tudo certo.
            - “Tudo certo”? – Andrew sacudiu a cabeça – Cara, acho que o mofo da biblioteca está acabando com o seu cérebro. Ou talvez Drue esteja arremessando cadernos demais na sua cabeça. Eu nunca vou conseguir passar a perna no papai, ou você se esqueceu que eu não consigo mentir pra ele?
            - É claro que não, ou você não seria o preferido.
            - Caramba, Charlie, você...
            - Ta bom, ta bom! Chega dessa discussão. Você vai me ajudar? Se não, eu dou outro jeito.
            Andrew pareceu estudar suas chances. Ainda que não concordasse com a escapada do irmão na calada da noite, era impossível não querer ajudá-lo. Havia uma cumplicidade que superava qualquer obstáculo, até mesmo a preferência do pai pelo caçula.
            - Ok, eu ajudo. Mas você vai me dizer o que está acontecendo.
            - Assim que eu descobrir, eu te aviso – avisou Charlie, bagunçando os cabelos do irmão, sorrindo aliviado.
           
            Tomaram uma ducha rápida, trocaram de roupa e, em menos de meia hora, Andrew e Charlie já estavam prontos. Lauren foi a mais minuciosa em seus cuidados com a beleza, como de praxe. Michael estava na garagem, fumando um cigarro.
            Michael Logan era o principal redator do jornal de todo o condado e, depois de muito esforço, estava prestes a se tornar âncora. Lauren passava a maior parte do tempo no telefone com a irmã, gabando-se do sucesso do marido. Ao que parecia, essa rincha entre irmãos era herança de família que, com esforço, Andrew e Charlie estavam conseguindo superar.
            - Mãe, vamos nos atrasar – avisou Charlie. Não estava dando a mínima ao jantar, ainda que prezasse a companhia de sua família. Mas, diante das circunstâncias, seu aniversário não parecia grande coisa.
            - Você ainda vai levar essa ideia louca adiante? – perguntou Andrew entre dentes.
            - Apenas cumpra sua parte, pode ser?

            O jantar foi tranqüilo. O restaurante era bem requisitado na cidade, Lauren precisou fazer a reserva com duas semanas de antecedência. Passaram a maior parte do tempo falando sobre os planos para a estadia na nova casa. Michael pensava em construir uma casa na árvore, com a ajuda dos dois irmãos. Quando Charlie era pequeno, ajudou o pai a confeccionar a “melhor casa da árvore do mundo” e, naquele momento, o garoto percebeu que se tratava de uma manobra para unir a família um pouco mais.
            Ele não sentia culpa, apesar de tudo. Ele não cresceu pensando, “Hey, vou contar algumas mentiras e frustrar os meus pais”. Mas, em parte, ele se sentia responsável pelo pai ter se afastado.
            Eram quase onze da noite quando, finalmente, chegaram em casa. O céu estava negro, com estrelas discretas fazendo sua vigília silenciosa, enquanto um vento fresco atiçava a grama do quintal.
            Charlie estava pronto para por o plano em prática. Bastou um simples e definitivo olhar ao irmão, e já estavam combinados. Seria assim que possível.

2 inspirações:

  1. Eita! O mundo está repleto de homens valiosos que provavelmente nunca conheceremos,né!Ainda bem que eu tive essa oportunidade, querido escritor.

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  2. Quanto tempo, que ñ venho aqui....
    Enfim, mesmo com a demora sempre irei continuar lendo sua estória. Ela é simplesmente incrível!

    Gostei da aproximação dos irmãos, nesse capítulo :)

    Kisses ♥!

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Base feita por Adália Sá | Editado por Luara Cardoso | Não retire os créditos