Cabeça Grávida


Não sei se acontece apenas comigo, ou se mais alguém mundo afora compartilha da mesma incômoda comparação. Mas o que seria o processo pensante, se não uma gestação metafórica que emprenha nossas ideias?
Vamos mais a fundo, até o útero craniano, e compreender a fecundação criativa. Imagine-se mergulhado num fluido recheado de lâmpadas de 60 watts flageladas e, nesse mesmo meio sua mente se prepara para abrigar um novo ser. Porque, afinal, o cio criativo é o estado mais propício à embrionação do pensamento.
Quando uma dessas lâmpadas mergulha na massa cefálica (que dissimula um ovócito indefeso e imaculado) dá-se à luz a mais mirabolante das ideias. Então, finalmente, depois do orgasmo lírico, você pode se considerar um ‘Cabeça Grávida’.
E a criança (que outra metáfora seria mais condizente para o termo ‘ideia’?) começa a se formar, após o ato libidinoso já consumado. A gestação perdura, e os seus olhos e ouvidos assumem o papel umbilical, ligando as fontes da criatividade externas ao seu singelo pensamento. Este se nutre, fortalece as bases. Começam-se os chutes metafóricos, abalando de vez seu estado anterior de inércia mental. Não há o que ser feito. Resta,a gora, o enxoval.
Ora, que tipo de pai deixa a cria ao leu? Não! Como bom progenitor, arruma-se logo um aconchegante leito, macio, branco, ‘brochurado’ e encadernado, para deitar a ideia em seu descanso merecido. Claro que ela continua com fome, e não há nada pior do que ser acordado no meio da madrugada pelo silêncio choroso das ideias. Aquece-se a mamadeira, já de ponta afiada, seja ela nº 2 ou 0.7, não faz diferença. O importante é manter o grafite sempre à mão.
E, como todo recém-nascido, sempre fazem uma sujeira aqui, outra ali, pois a falta de prática ainda não permite colocar tudo em seu lugar. Borracha macia, uma espanada e, pronto!, adeus excremento, falha criativa!
Você se prepara (meta)fisicamente para o parto e, depois de algumas queixas, a ideia brota na sua forma pura, estremece infantilmente e chora. A princípio ela cabe no colo, mas não demora a crescer e, quando menos se espera, já está pedindo emancipação.
Mas é como dizem: “A gente cria ideias para o mundo”.
Shhh... Agora, silêncio. A minha acabou de pegar no sono.

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Base feita por Adália Sá | Editado por Luara Cardoso | Não retire os créditos