[Resenha] Supernova, de Renan Carvalho

     
     Em Acigam, tudo parece atrasado quando se trata do resto do mundo. Mas, afinal, que resto do mundo seria esse? Depois que os governantes da cidade ergueram os muros, ninguém mais entrou ou saiu. E, de repente, o conhecimento se tornou algo perigoso. Tão perigoso que o governo decidiu caçar os que dominavam a ciência. Num lugar onde saber demais é crime, a guerra é inevitável. 



Título: Supernova - O Encantador de Flechas
Autor: Renan Carvalho
Editora: Novo Século
358 páginas2013

     Leran Yandel era um morador de Acigam, mas diferente dos demais, ele também conhecia a ciência das energias, estudo de manipulação dos elementos da natureza, considerado criminoso dentro dos domínios da cidade. Seu dia começava na escola, desde estudos enganosos sobre o fundamento do mundo até as incríveis aulas de arco e flecha. Após a aula, o garoto seguia até a loja de artesanato do avô, a fim de aprender a tal ciência proibida. Mas quando ele se encontra, pela primeira vez, com um Silenciador - soldado do governo com perícia em eliminar os controladores de energia - esse encontro transforma o garoto a tal ponto de se enfiar na guerra civil para lutar contra a opressão do governo tirano.
     Ao lado da Guilda - um grupo de controladores de energia unidos contra a opressão - Leran vai conhecer amigos, inimigos, e vai sentir o gosto do traição tantas vezes quanto se é possível para um jovem que acaba de descobrir segredos demais para seus ombros suportarem. Tendo como plano de fundo uma cidade anacrônica, amigos com diferentes habilidades e a irmã com talentos latentes. E, claro, como toda boa história que se preze, um romance entre o protagonista nos espera ao longo das páginas. 

     Narrativa: é muito bom poder encontrar um livro nacional, de leitura fácil e com um jeito único de pegar o leitor e fazê-lo imergir pelas páginas, e com Supernova foi assim. A narrativa de Renan Carvalho tem personalidade, com uma pegada jovem, fluida e, o melhor, não é maçante! Embora haja algumas cenas em que os acontecimentos são abruptos e a transição de cenas poderia ser melhor trabalhada, a narrativa em primeira pessoa (na 'voz' de Leran Yandel) por outro lado consegue trazer a personalidade do protagonista. 
     Personagens: uma das maiores vantagens em ser fã de animes e séries animadas é essa (sim, Renan Carvalho curte essa vibe rs). Os desenhos que a gente vê sempre têm personagens com traços emocionais muito diferentes. Tem sempre um esquentadinho, um brincalhão, aquele que é mais centrado, e o obstinado. Tem o vilão com crise existencial e o vilão que é pura maldade. Tem os bons e maus, e da mesma forma tem os que estão no mesmo caminho. Em Supernova não é diferente. Galek, amigo de Leran, é o mais impulsivo e raivoso, o que explica sua afinidade com o elemento fogo. Boom, a garota infantil e cheia de vida, também compõe a roda de novos amigos de Leran. Todos são bem característicos, o que é importante. Luana, a irmã de Leran, é a personagem mais crescente na história. De uma aparente coadjuvante - com personalidade forte e divertida - ela vai acabar se revelando uma peça importante em toda a trama, e é de personagem assim que as histórias precisam hoje em dia. 
     Ambientação: esse foi um dos elementos que mais senti dificuldade em captar. A princípio ficou complicado perceber em que parte no espaço e tempo a história se passava e, enquanto algumas cenas me pareciam contemporâneas, outras nem tanto. A temporalidade é realmente meu maior impasse. Entendo que o universo criado nessa estória é paralelo ao nosso, com componentes diferentes, e talvez por isso eu ache que seria bacana dar mais incremento à narrativa, aos detalhes da tecnologia, das vestimentas e do ambiente para que o leitor pudesse se situar melhor... Mas, depois de conseguir fazer associação com os gostos do autor e o mundo de algumas séries animadas, aí eu me toquei. Supernova pega emprestado alguns elementos do steampunk, e esse gênero - pelo menos ao meu ver - foi usado pelo Renan para delinear seu próprio mundo. Sua tecnologia é anacrônica, assim como o gênero da tecnologia a vapor, com o diferencial de que muitos dos artefatos são, na verdade, manipulados por meio do controle de energia. Acabei me apaixonando pela ambientação da história, queria até estar lá! (não em Acigam, porque o clima lá está tenso). Aliás, se notarem bem, Acigam, ao contrário, é o quê? Magica!
     Enredo e Desenvolvimento: aqui a coisa esquenta. A primeira vista, olhando por cima como quem não quer nada, você pode encontrar uma estória com trama clichê: manipuladores de elementos da natureza na busca por um ideal, e muitos são movidos pela vingança.  Dá pra encontrar muitas referências ao desenho animado Avatar (A Lenda da Korra, principalmente), inclusive foi essa relação que me ajudou a ambientar Supernova. Mas não se preocupem, porque o autor conseguiu colocar sua própria roupagem na trama e, de quebra, tornou-a bastante original. Renan Carvalho mistura espadas, machados e arcos em um mundo onde os mais poderosos utilizam metralhadoras e pistolas rudimentares. Existe objetos movidos a eletricidade, com o diferencial sensacional de que essa eletricidade é produzida pela manipulação dos elementos da natureza! Os anacronismos de Supernova são de encher os olhos!  
     O que vemos em Supernova são controladores de elementos oprimidos pelo governo, enquanto há uma busca pela Estrela - um jovem controlador com poderes inimagináveis. E é nesse ponto que conseguimos perceber a maturidade da escrita do Renan. Não posso dizer muita coisa pra não dar spoiler, mas posso adiantar que, embora a existência de um jovem Estrela indique o velho clichê de uma profecia que aponta um escolhido pelo destino para salvar o mundo, nesse caso a situação não é bem assim. Existe muito mais por trás disso e, em Supernova, o jovem Leran desempenha um papel que não pode ser o esperado pelo leitor. E isso, pra mim, foi uma surpresa muito boa.
     A história evolui muito bem, a progressão de acontecimentos dá um ritmo cada vez mais frenético a leitura e, no último capítulo, não dá pra deixar de sentir aquela vontade de ler a continuação. Mas isso, amigos, vai demorar, já que o Renan ainda tá escrevendo o segundo livro. Vamos torcer para que 2014 nos surpreenda mais uma vez com Supernova - A Estrela dos Mortos !! 

   

     Supernova mostra que a literatura fantástica nacional está em boas mãos. Para um livro de estreia, Renan mostra um talento lapidado que poucos autores demonstram em seus primeiros trabalhos. Vale muito a pena ler O Encantador de Flechas, não apenas pelo entretenimento, mas pela forma como a estória te marca, mesmo depois que você fecha o livro. 

Boa leitura, pessoal!
Fiquem na Paz!      
     

6 inspirações:

  1. Finalmente a resenha! \o/

    Gostei muito do seu ponto de vista, suas observações foram bem desenvolvidas, como deve ser uma resenha. Eu ainda quero ler Supernova, é um dos nacionais que está na minha meta de leitura, já sabia que era escrito em primeira pessoa, por ter espionado as primeiras páginas numa livraria...hehe

    Desejo todo sucesso ao autor! É muito bom ver a literatura nacional despontado com qualidade no mercado!

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  2. Cara, achei muito bom, os livros nacionais estão evoluindo né ? Estou lendo cada um que as vezes acho até melhores do que os estrangeiros! Adorei a capa também, achei linda demais! Muito boa a resenha, beijo :*

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  3. Achei a premissa dessa estória sensacional, mas confesso que fiquei completamente interessada depois que você comentou sobre a referência ao steampunk, se a ambientação for do jeito que estou imaginando, sem sombra de dúvidas acharei essa estória sensacional!! Adorei a resenha e, caramba, já adicionei o livro na minha lista de desejados, quero logo o meu exemplar!!! hehe
    Jéssica - http://lereincrivel.blogspot.com.br/

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  4. Fiquei até sem fôlego depois do review. Já entrou pra wishlist, só pela referência a Avatar, e essa coisa ~~distópica~~ do governo oprimir (e alienar) o povo, premissa muito f** a capa também ajuda HAHAHA.

    Abs

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  5. E ae Pedro, beleza??!

    Nossa cara, sou louco pra ler Supernova!! Sou parceiro do Renan e quero adquirir o livro com ele, logo logo!! haha
    Cada resenha que sai, aumenta minha vontade de ler o livro!! É muito bom *--* haha

    Parabens pela resenha, me deixou sem fôlego! rs

    Abraços
    Adriano G.
    GeraçãoLeitura.com (http://geracaoleiturapontocom.blogspot.com.br/) passa lá ;)

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  6. Já ouvi falar de Supernova, mas não tive oportunidade de ler. Também fiquei meio confusa quanto à ambientação. Será que se pode chamar de distopia? Parece uma mistura de gêneros, incluindo o épico, mas também acho bacana que os escritores brasileiros sigam também por essa vertente. São mais opções ainda para nós, leitores.

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Base feita por Adália Sá | Editado por Luara Cardoso | Não retire os créditos