[Resenha] O Oceano no Fim do Caminho - Neil Gaiman

Nunca tinha lido nada de Gaiman. Pra dizer a verdade, mal conhecia o autor, até ver O Oceano no Fim do Caminho nas prateleiras da minha livraria preferida. E, sem querer parecer influenciável, mas essa capa linda acabou me chamando a atenção, antes de tudo. Assim como o nome. O Oceano no Fim do Caminho. Eu me lembro de ver esse livro e pensar: o que será o Oceano que fica no fim do caminho? E de onde será que esse caminho vem?
Foi assim que, bem rapidamente, me vi envolvida no mundo de Gaiman. Descobri que ele escreveu Coraline (<3), que é um desses autores que escreve de tudo, e com maestria, e precisei conseguir trazer O Oceano no Fim do Caminho pra casa. Acabei ganhando-o em uma promoção (primeira promoção que ganhei na vida, acreditem), e comecei a ler o livro quase que na mesma hora. E, não sei se me apaixonei instantaneamente, mas sei que fui envolvida e me senti encantada com a narrativa de Gaiman desde a primeira página.
A história começa quando um homem precisa voltar ao lugar onde passou sua infância para o funeral de alguém da sua família. Ele já havia esquecido de sua infância em algum momento de seus quarenta anos, e acaba se vendo levado pela torrente de lembranças de quando ainda era um menino ao visitar a fazenda Hempstock, onde vivera muitas aventuras. Fazenda essa onde ele conheceu Lettie, uma menina divertida que parece segurar muito mais conhecimento do que alguém com apenas 11 anos deveria. E é a partir do momento que ele chega na fazenda da família de Lettie, onde se encontra o lago que a menina o fez acreditar, muitos anos antes, ser o Oceano, que suas lembranças tomam conta de sua mente ao mesmo tempo que da nossa, enquanto a narrativa nos faz entrar no mundo fantástico que a vida de uma criança de sete anos pode ser. 
Já no início do livro, somos apresentados à história do ponto de vista do menino de sete anos, que se via sozinho no dia de seu aniversário, porque seus amiguinhos de escola não apareceram na sua festa. Sabemos ali que ele tem uma família que o ama, que não tem muitos amigos, e que prefere acima de tudo ficar na companhia de seus livros com histórias fantásticas. E é no ponto de vista desse pequeno leitor que a maior parte de O Oceano no Fim do Caminho vai ser narrada.
Só que a vida feliz desse menino acaba se tornando tumultuada quando seus pais veem a necessidade de alugar quartos de sua casa para complementar a renda. Quando esse primeiro inquilino é encontrado morto dentro do carro de sua família em uma rua próxima a deles, ele acaba sendo apresentado às mulheres Hempstock e à aura de magia e sobrenatural que as cerca. Entre problemas com a babá e brigas com sua irmã mais nova, o menino encontra na fazenda Hempstock o entendimento, o apoio e a magia que precisa.
Depois da morte desse inquilino, ele narra a história contando sobre como o mal começou a habitar as redondezas. Fala sobre a governanta e babá, que na verdade, era uma criatura maligna que estava ali na tentativa de acabar com o mundo da forma que o conhecemos, mas ninguém o ouvia. Narra as cenas em que Lettie parece acabar com seus medos o ensinando que existe uma forma de acabar com o mal, mesmo que para isso você acabe se sacrificando um pouco no percurso.
Não tenho saudade da infância, mas sinto falta da forma como eu encontrava prazer em coisas pequenas, mesmo quando coisas maiores desmoronavam. Eu não podia controlar o mundo no qual viva, não podia fugir de coisas nem de pessoas nem de momentos que me faziam mal, mas tinha prazer nas coisas que me deixavam feliz.

 O mais incrível da narrativa é a sensação que a história passa a você. Por mais que o seu conhecimento de mundo te leve a acreditar que nada daquilo poderia ser verdade, você não consegue prosseguir a leitura sem acreditar que cada palavra ali descrita seja possível e real. Gaiman constrói uma história onde a realidade e a fantasia são a mesma coisa, sem nenhuma linha separando um do outro. E o leitor se vê imerso nas mesmas sensações que o narrador do livro. Do desespero e terror ao acalento e carinho, as sensações são passadas através das páginas e te invadem. 

Não é uma história simples. E muito menos uma história infantil, mesmo que o narrador tenha sete anos na maior parte do livro. É uma história sobre felicidade, medo, perdas e descobertas. É uma história onde você precisa desagregar os valores convencionais dos personagens para obter a realidade da narrativa. É uma história que você deve permitir que inunde, te afogue e te traga o ar novamente.
Eu poderia continuar falando sobre a história por outras mil páginas. Mostrando a você, que ainda não leu, as nuances da narrativa de Gaiman e falando sobre como ele sabe dar o tom fantástico certo para cada situação. Mas, como se resenha o que se sentiu? É difícil transformar em palavras o que só tivemos em nossa mente. E também acho, de verdade, que você deve ler o livro e tirar suas próprias conclusões sobre a história, fazer sua própria análise do que leu. Já vi pessoas que amaram, pessoas que não viram nada de mais na narrativa, pessoas que nem entenderam a história. Tudo que eu posso te dizer é que essa é uma daquelas histórias que ficam na sua cabeça e aparece em forma de lembranças em momentos inesperados. E que, para mim, foi a história mais fantástica que tive o prazer de ler esse ano.

Uma pessoa só é relevante, suponho, na medida em que as pessoas da história mudam. Mas eu tinha sete anos quando todas essas coisas aconteceram, e no fim de tudo era a mesma pessoa que era no início, não era? Todos os outros também. Deviam ser. As pessoas não mudam. Mas algumas coisas mudaram.  

2 inspirações:

  1. Ainda não li nada do Gaiman, mas sempre tive a vontade de lê-lo. Agora, depois de ter lido essa resenha, eu sei que tenho que inclui-lo na minha próxima compra.

    Lucas - Carpe Liber
    livrosecontos.blogspot.com

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  2. Li esse livro e adorei, apaixonante, com uma narrativa cativante. Recomendo a todos.

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Base feita por Adália Sá | Editado por Luara Cardoso | Não retire os créditos