Resenha - Um Lugar Escuro

 
 Título: Um Lugar No Escuro
Autor: Leonardo Zegur
Editora: Multifoco
Ano: 2011

 Sinopse: Personagem tão comum, sujeito de classe média, sem virtudes, sem nem nada deu origem a tal tragédia. não é loiro, nem bonito, nem seus olhos são azuis, o seu trejeito e sua voz, a feiura fazem jus. Não namora, nem badala, sua vida é uma inédia, já de menino era feio, motivo alheio de comédia. Deixou que se fosse a vida, que passasse a infância, julgou que sendo moço deixaria a ignorância. Mas seus dias se esticaram e o desgosto não cedeu, continuou sendo a comédia, miserável qual plebeu. Foi zombado e humilhado com ardor e grande instância, se fosse ter com as mulheres era tratado com arrogância. Mas cansado de sofrer fez valer o seu respeito, nunca foi de mala ré, nem tão pouco homem suspeito. Mas seus rivais irão pagar pelo mal que lhe fizeram, pelo bullying na escola, pela aflição que lhe impuseram. Nunca quis ferir ninguém, antes disto ser aceito, mas a vida lhe ensinou que não se mata o preconceito. // Um Lugar Escuro é o livro de romance psicológico naturalista do autor Leonardo Zegur. O subtítulo é: baseado em uma história real. A história traz temas como bullying, descriminação e preconceito. Sua primeira edição foi em 08 de outubro de 2011 pela Editora Multifoco, no Rio de Janeiro, Brasil.


 ***
 Resenha:

Comecei a ler Um Lugar Escuro e, logo de cara, percebi como a narrativa é ebriante. Além de trazer um jeito brasileiro afetado pela sociedade discrepante, o narrador-personagem conta sobre os cenários e as pessoas à sua maneira, com sua visão de mundo comprometida pelo trauma e preconceito sofrido desde pequeno.
Ele (digo ele, pois nosso personagem principal não possui um nome, ou melhor, não nos é revelado, talvez porque ele represente não uma pessoa, mas inúmeras) sofria bullying na escola e era atormentado por um fato que o assombrava: ele era feio.
Isso mesmo. A história gira, essencialmente, em torno de um mundo comandado pela ditadura do belo, em que o homem, para conquistar as pessoas, precisa ser bonito, as mulheres precisam ser sedutoras, enquanto todo o resto que não se enquadre nessas descrições são descartadas e ignoradas pela sociedade.


O narrador-personagem usa de sua ironia e deboche para imprimir sua total insatisfação pelo Brasil de diferenças crueis, marcado por uma conduta social distorcida, em que o corpo é ainda mais valorizado - muito mais do que as propagandas de cerveja que vemos hoje em dia - e o caráter é um tesouro raro, perdido pelas ruas miseráveis de uma Rio de Janeiro marginalizada impactada por tais valores distorcidos.
As críticas sociais não são metaforizadas. Elas praticamente são cuspidas na nossa cara. Ele usa argumentos e fatos em meio aos seus relatos para denunciar o descaso com o brasileito e, pior, o descaso que o povo tem sobre si mesmo!

Tudo começa quando o protagonista entra no metrô. O comboio é apenas outro pedaço de sucata, nada além de um resumo do que é o resto do mundo. Mesmo ali, em um espaço ínfimo se comparado à grande metrópole, o rapaz vê a discriminação, bem na sua cara. Ele é o discriminado. Encantado por uma jovem, ele se lança em um diálogo, cheio de esperança, talvez ela dê atenção a um "simples mortal". Mas ela o ignorou. Completamente. Por ser feio. Simplesmente por ser feio, ele foi ignorado. Não por dinheiro, não por se vestir de um jeito ou de outro... Simplesmente porque sua cara era ferrada demais para ser apreciada por uma garota tão bonita! Sacanagem, hein, parceiro!
Mas o cara não se controla. Ele mata a jovem ali mesmo, sem piedade, a sangue frio e tudo bem calculado. Esse é um dos primeiros assasinatos que o protagonista comete, logo no início de Um Lugar Escuro.


Seu vício incontrolável é o computador e, além disso, é um blogueiro cheio de ideais que se propagam até as casas de outros internautas. Através de seu espaço na net, ele denuncia o descaso do governo. Mas, lendo o livro, percebo como a visão do rapaz é deturpata, não porque ele quer chamar atenção ou por simples e fútil revolta. Não. O rapaz está aos pedaços, morto por uma sociedade cruel que o humilhou desde o início e, incapaz de lidar com isso, começou a criar uma personalidade complexa, retalhada.
Exatamente. Ele é um mosaico social, um pedaço do pior de cada canto de nossa sociedade, cada classe social e cada estrato da nação brasileira. Mas, também, um pouco da bondade do brasileiro, da camaradagem. Como eu disse, uma personalidade complexa.
Era sua luta diária. Viver, ser aceito, ter uma namorada, e odiar a ditadura do belo.
Colega de quarto (um minúsculo quarto) de Jaysukh - um rapaz do Sri Lanka, ele cria um vínculo com esse rapaz e acabam se tornando amigos, por terem certa afinidade com o lance de tecnologia. Mas nosso narrador-personagem está tão preso em seu trauma, em seu passado, que sua visão generalista o impede de apelar para as coisas boas da vida. Ele tinha bons pais, um amigo, mas isso não era o suficiente, pois ele se sentia agredido pelo resto do mundo, e tinha a sensação de que o mundo lhe roubara o direito de ser feliz, aquele direito que os belos e sedutoras tinham.
as coisas começam a fugir do seu controle. Após ser humilhado e rejeitado, ele passa a perseguir as garotas que o faziam sofrer. A dor e o desejo de acabar com o sistema falido chamado sociedade são suas motivações. Quando a polícia começa a investigar demais os primeiros casos de assassinato, ele abandona sua vida antiga, deixa o amigo e colega de quarto para viver na favela, onde acreditava estar livre da polícia e onde, curiosamente, começou a se misturar e se relacionar com pessoas que consideravam-no amigo. E lá ele conheceu Ludimila, a primeira garota que o abraçou, sem dar importância alguma. Ela não olhava rótulos.

Mas um assassino não consegue ficar muito tempo afastado dos holofotes. Ele se meteu com traficantes, tornou-se conivente de um furto de carro e, graças à isso, ele foi rastreado pelos oficiais. Ele precisou fugir, desesperadamente. Acompanhado de Ludimila, sua grande amiga, os dois vão se esquivar da polícia, a todo custo, manter sua liberdade e continuar lutando contra o sistema.

De uma forma alucinada, os seguidores do blog do rapaz começam a ajudá-lo, enviar dinheiro e dicas de como realizar essa fuga. A sociedade se vê, então, dividida. Alguns partilham dos mesmos sentimentos que o rapaz, e não o julgam um assassino, mas um valente e rebelde com causa. A outra parcela o enxerga como um criminoso da pior espécie.

Mas, daqui por diante, não há mais o que dizer, porque o leitor precisa decidir, por si só, quem, afinal, é o protagonista... Um assassino, ou um herói?
 Vai encarar Um Lugar Escuro?


...


É isso aí, pessoal. Essa foi a resenha de Um Lugar Escuro, livro de Leonardo Zegur, parceiro aqui do blog Inspirados.
Se você se interessou, dê uma lida. No blog do autor é possível discutir aspectos do livro e conversar com o autor. O livro está disponível à venda no site umlugarescuro.site.com.br

Fiquem todos na Paz, e curtam uma boa leitura!

4 inspirações:

  1. ah j[a tinha ouvindo fala desse livro eu achei super interessante, pretendo ler ele é claro...
    Adorei a resenha

    Beijo
    http://marifriend.blogspot.com/
    @Storieandadvic

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  2. OLá! Estou te seguindo...me segue tbm! AMei o blog.O livro parece ser muito bom. Se puder participar do meu concurso de Natal, que tem brindes super lindos! Bjus!
    http://palomaviricio.blogspot.com

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  3. Oi Pedro!
    Nossa que enredo forte. Apesar que se trata do bullying né então...

    Engraçado que lembrei de um outro livro enquanto lia sua resenha, mas o livro é meio 'comédia' esse tem mais seriedade.


    Parabéns pela resenha

    Um ótimo final de semana para você
    Nana - Obsession Valley

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  4. Boa resenha, você escreve muito bem, eu gosto. Acho que uma das melhores descrições que já vi sobre o protagonista de Um Lugar Escuro foi a sua: "Ele é um mosaico social, um pedaço do pior de cada canto de nossa sociedade, cada classe social e cada estrato da nação brasileira." Parabéns ao blog, à resenha e a ti Pedro. Abraços!

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Base feita por Adália Sá | Editado por Luara Cardoso | Não retire os créditos