Dica de Leitura #3

A Elegância do Ouriço

Minha atenção foi atraída no instante em que preguei meus olhos no título. Tenho o mau hábito de julgar o livro pela capa, mas, em alguns casos, isso até que funciona. Para minha sorte, esse livro foi uma exceção ao dito popular.
O romance foi escrito pela talentosa Muriel Barbery, uma escritora francesa que, através dessa obra, trouxe aos leitores um estado de reflexão único, chamando nossa atenção para o mundo sedutor do conhecimento e, ao mesmo tempo, fazendo-nos olhar de forma diverente para as pessoas a nossa volta, como se todas estivessem cobertas por uma carapaça e, interiormente, escondessem uma beleza incompreensível. A Elegância do Ouriço vai expor a vida de duas pessoas que, em mundos diferentes, acabam se conhecendo e descobrem que não pertencem aos seus respectivos lugares. São "pérolas em meio aos porcos".

Paloma era uma criança de apenas doze anos, residente na rua de Grenelle, número sete, num luxuoso bairro parisiense. Cheia de pensamentos filosóficos e uma postura de completa reclusão, a garota decide que a vida não possui sentido algum, que sua família é fútil e que sua irmã é ainda mais superficial do que demonstra ser e, por isso, deve encerrar os seus dias aos treze anos. Com a ideia de queimar o próprio apartamento e, então cometer suicídio, ela dá um voto de confiança à vida, afirmando que, se até o seu décimo terceiro aniversário, encontrasse um motivo para não tirar a própria vida, abandonaria de vez os pensamentos melancólicos de suicído e viveria até o definhar de sua velhice. Sua mente reflexiva, completamente incongruente com a idade, acaba sendo um motivo para que Paloma esconda sua verdadeira personalidade, esforçando-se para agir como as crianças de sua idade.

Entrementes, outra pessoa naquele edifício também tenta não chamar atenção. Trata-se de Renée, a zeladora do edifício (na história usa-se o termo concierge).  Segundo Renée, o gosto pela leitura e os bons modos não eram bemquistos pela sociedade, se esses hábitos viessem de uma pessoa tão simples como uma concierge. Ela temia que seu lugar no edifício fosse comprometido se soubessem que Renée era uma apreciadora da arte e da literatura. Assim como Paloma, a zeladora passa a camuflar suas ações, apagando as pegadas de sua personalidade e plantando outras. Mas seu disfarce é colocado em questionamento pelo Sr. kakuro, um senhor gentil que se muda para o edifícil e começa a ver em Renée alguém mais especial do que demonstra ser. Surge, então, a promessa (ou talvez ilusão) de um romance entre os dois. 

Nessa busca de menina e mulher por esconder suas reais intenções, elas acabam descobrindo uma a outra. Tão logo uma amizade fora do comum surge entre elas e, no meio dessa amizade, muitos sentimentos serão despertados no leitor, desde o riso à mais profunda tristeza.

A história é abordada num plano de questionamento existencial, levando-nos a pensar em nossas atitudes. O livro não pretende trazer uma lição de moral (não ao meu ver), mas com a permissão do leitor ele se faz professor e nos passa uma bela lição e, no fim, você pode tirar suas próprias conclusões sobre a vida e sobre a morte, também.

É isso aí, pessoal. Gostei muito do livro, eu consideraria uma leitura de nota 8,5. Apesar de não fazer o meu estilo, é realmente cativante.
Boa leitura, e fiquem na Paz!