[Resenha] A Culpa é das Estrelas - John Green

     Não importa quanto tempo se passe, o quanto a medicina avance ou o quanto as pessoas fiquem mais espertas. É improvável, na história da humanidade, que em algum momento deixemos de questionar a morte, e menos provavel ainda que deixemos de imaginar o que ela provoca em você quando decide fazer uma visita. "A Culpa é das Estrelas" só nos faz pensar mais no assunto, com a diferença de que podemos rir diante dessa situação. Não que ela não nos faça chorar, é claro...




Título: A Culpa é das Estrelas
Autor: John Green
Editora: Intrínseca
283 páginas


     "- Meu nome é Hazel. Tenho 16 anos. Tireoide com metástase nos pulmões. Estou bem."

     Hazel Grace lutava contra seu câncer desde os 13 anos, diagnosticada com uma doença terminal. Aos 16 anos, ainda de pé, mantinha-se viva graças a um novo medicamento que reduzia os tumores. Seus pulmões não eram nem de longe saudáveis, precisava se manter conectada a cânulas e ao Felipe (um cilindro de oxiênio que servia de companhia em tempo integral), mas conseguia viver relativamente normal, realizando tarefas menos cansativas como dirigir, frequentar a faculdade, lidar com coágulos no pulmão...

     Para lidar com toda a situação de dias contados, Hazel passa a frequentar o Grupo de Apoio, onde acaba conhecendo o jovem e ousado Augustus Waters. Ele era, assim como ela, vítima de um câncer que levara embora sua perna. Isaac - amigo de Hazel desde o início do grupo e antigo amigo de Augustus não se sabe desde quando - também frequentava as reuniões de apoio e, juntos, formaram um trio bastante promissor. Isaac também era vítima do câncer que poupara sua vida em troca de um olho (até, claro, o momento em que viesse buscar o outro, dando ao rapaz uma nova perspectiva, o de não enxergar absolutamente nada).

     Hazel enfrentava sua situação tentando ponderar entre o que queria e o que seus pais queriam. Afinal, era inteligente o suficiente para saber que as dores de sua doença não eram apenas suas.


"Só tem uma coisa pior nesse mundo do que bater as botas aos dezesseis anos por causa de um câncer: ter um filho que bate as botas por causa de um câncer."
p 15


     Num determinado estágio desse relacionamento amigável, Hazel compartilha com Gus (ou Augustus) seu livro predileto, Uma Aflição Imperial. Por muitos dias eles discutiam e filosofavam sobre o livro, a história de Anna, uma menina em fase terminal cuja história tem seu fim subtamente interrompido, deixando os outros personagens sem um final digno na perspectiva de Hazel.

     No começo, tudo o que ela menos queria era se envolver intimamente com o rapaz. Amar seria um erro diante das suas condições, era uma 'granada' esperando explodir, e ela nem sequer estaria ali quando sua doença terminal machucasse todos a sua volta. Hazel mencionava a si mesma como um efeito colateral, uma experiência fracassada pelo universo tentando fazer mutações.


     "- Eu sou tipo. Tipo. Sou tipo uma granada, mãe. Eu sou uma granada e, em algum momento, vou explodir, e gostaria de diminuir a quantidade de vítimas, tá?"
p 95 


     Mas começar a se a paixonar não foi difícil e, depois que veio o amor, eles souberam que, não importava quantas granadas explodissem, ninguém podia controlar o número de feridos. Quando alguém entra na sua vida, especialmente se você tem uma doença terminal, não pode poupá-la de nenhum dor. Nossas escolhas são só nossas.

     Juntos, apoiaram o amigo cego desolado pelo fim do namoro com Monica, viajaram até Amsterdã para beber estrelas e se decepcionarem com seu escritor preferido. Zombavam da vida, questionavam a morte e lamentavam ambas, mas sempre juntos, acompanhados de seus cânceres.

     John Green não escreveu um livro sobre câncer. Ele escreveu um livro que merecia ser lido, um livro que permitiria ao leito chorar e sorrir por coisas relevantos. Mais do que isso, escreveu sobre o sofrimento e a dor, não como castigo ou carma, mas como uma fase (embora câncer, como a Hazel disse, não seja uma fase) que não precisa de uma justificativa para existir.  Escrito em primeira pessoa, A Culpa é das Estrelas revela a graça e a beleza em se viver andando sobre a corda bamba que as circunstâncias nos obrigam a atravessar vez ou outra. Com diálogos tocantes e comicamente corrosivos, personagens cativantes e um enredo genuíno, o livro se tornou o meu preferido, e provavelmente vai ficar nessa posição por um bom tempo. Viajando na mente de Hazel, podemos ter uma vaga ideia do que se passa na mente de quem possui uma doença terminal e, com sorte, o que se passa na mente de quem está perto da 'granada' pronta para explodir.
     Eu não saberia dizer mais nada sobre esse livro. Talvez seja o impacto que uma leitura como essa pode gerar, a gente acaba precisando de um tempo para digerir a história e desembaralhar os pensamentos deixados por A Culpa é das Estrelas. Só posso dizer que vale muito a pena ler, não há um momento em que você deixe de sentir empatia pelo caso. Eu espero que você leia, e que aprecie como eu aprecei. Porque, amigos leitores, são poucas as vezes quando encontramos com um livro que grita tão claro com a gente, sem precisar deixar uma lição, e sim a impressão de que foi ótimo enquanto durou.



"Eu aceito as minhas escolhas. Espero que a Hazel aceite as dela."


     Houve um momento, durante a leitura, que a história me fez pensar nessa música, "My ex-lover is dead", do Stars. Para quem ficou curioso, dê uma olhada. A Culpa é das Estrelas cai muito bem com uma trilha sonora.





     







      
    
     

8 inspirações:

  1. Oi Pedro, adorei a resenha!!

    Poxa o livro parece ser profundo, complexo e tratar de coisas bastante sérias sob uma perspectiva mais encorajadora! Já tinha visto a capa desse livro por aí, inclusive na livraria, mas não sabia realmente do que se tratava!

    Esse tipo de romance é bacana de ler, a impressão que eu tenho é que é um choque com a realidade: a realidade de outra pessoa! Ver a vida com outros olhos, ou nesse caso a morte, nos faz encarar a nossa com uma perspectiva no mínimo diferente!

    Parabéns pela resenha, com certeza vou procurar para ler!!

    até mais!


    Prólogo da Leitura

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  2. Meu cada vez que leio uma resenha de livro, fico com um ódio mortal por não ter lido ainda.
    Ainda bem, que o livro é como eu pensei, não retrata o câncer em si. Ponto positivo. :)
    O livro parece ser profundo e eu gosto disso.
    Beijos
    Bruna-Livros de Cabeceira

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  3. Oie Pedro
    quanto tempo não passo aqui, mas que bom que foi para ler uma resenha impecável, de um dos melhores livros que li esse ano.
    Green tem sensibilidade, e eu pude perceber isto lendo apenas 2 livros do autor.
    Me apaixonei por esse livro e pela carga emocional transmitida aos leitores.
    Impossível não se emocionar, chorar e remoer vários pensamentos no final da leitura.
    Bela resenha amigo
    bjos

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  4. Parabéns pela resenha Pedro! Estou ansiosa para ler A Culpa é das Estrelas! Abraços!

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  5. Eu nunca costumo rir das situações que considero 'sai justa'. Eu sou mais para gargalhar mesmo. kkkkkkkkkk

    A maneira como Hazel suporta e aguenta seus piores dias é de dar inveja... Mas eu chego lá... Com certeza!

    Ela se comparando a uma granada foi imbatível. Eu adoraria fazer uma comparação assim, tão justa. Não daria certo.

    E o Gus é o tipo de personagem que nos faz vibrar por casa página. Torcemos por ele. Cremos que dará tudo certo... hehe

    Esse carma que ela carrega parece tão surreal aos leitores, pois só parece. Gosto de livros assim também, que nos dá empatia pelos personagens. Deve e muito nos ensinar a como viver melhor. A dar valor... Teve gente que chorou e vc?

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  6. Pedro, estava ansiosa pela sua resenha desse livro.
    Já queria muito lê-lo, agora a vontade só aumentou!
    Parabéns.

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  7. A cada resenha que eu leio fico com mais vontade de ler este livro!!! Quando ele foi lançado não me chamou a atenção, mas eu vi tantas resenhas positivas sobre ele que a minha curiosidade está me matando. hahaha. Amei a resenha e espero gostar! Beijos!

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  8. o tema desse livro me chamou a atenção, mas estou em um momento que procuro outras leituras, mas quero ler. Gostei da resenha, percebe-se o envolvimento seu com o livro.

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