[Resenha] Diga aos Lobos que Estou em Casa, de Carol Rifka Brunt

    Eu fiquei um bom tempo com esse livro em suspensão - depois de tê-lo lido - e pensando em um jeito de fazer uma resenha que pudesse expressar o que ele significou como uma das leituras mais melancólicas que tive até hoje. Acho que é isso, melancólico é uma boa maneira de começar a descrevê-lo. 

Título: Diga aos Lobos Que Estou Em Casa
Autora: Carol Rifka Brunt
Editora: Novo Conceito
464 páginas - 2014



     1987. June Elbus, era uma garota de quinze anos que encontrou o amor em um lugar muito improvável. Incompreendida pelos pais e pela irmã mais velha Greta, ela nutria pelo tio e renomado pintor FinnWeiss, um afeto preocupante, o que inclusive era alvo das implicâncias da irmã mais velha, que nunca pareceu facilitar para a irmã caçula.
      A amizade entre June e o tio Finn sempre foi algo que incomodou a mãe da jovem (e irmã do artista). Mas Finn não tinha muito tempo de vida, era um jovem artista com AIDS em tempos em que essa doença era um grande tabu. Seu relacionamento com outro homem sempre o afastou da família, mas isso não impedia June de nutrir secretamente seu amor pelo irmão de sua mãe.

"Naquele pedacinho de segundo, ele viu que eu estava com medo, inclinou minha cabeça e me beijo na parte de cima do cabelo com um toque tão leve que poderia ter sido uma borboleta pousando."
página 15

      Após a morte do tio Finn, as irmãs herdaram o quadro do tio, pintado por ele mesmo em homenagem a June e Greta, cujos rostos permaneceriam jovens e sorridentes para sempre em uma moldura. Mas isso não deixou a irmã mais velha muito feliz. E mesmo quando Finn morreu, o relacionamento delas não ficou melhor.
      Como se não estivesse difícil o suficiente, June acaba recebendo uma carta de Toby, o namorado de seu tio, e ela se sente dividida entre ciúme, ódio e o desejo desesperado em conhecer partes da vida de Finn que ela nunca pôde explorar. O encontro entre os dois pode mudar muita coisa, inclusive na família Elbus. Mudanças que não prometem um final feliz.

      Quando comecei a ler Diga Aos Lobos Que Estou Em Casa, já tinha me dado conta de estar diante daqueles livros com histórias tristes e com finais amargos. Mas esse livro fez o favor de superar minhas expectativas. A atmosfera melancólica é presente todo o tempo, e me faz pensar naqueles filmes indies bem hipsters que, vejam só, se passam na década de 80.

"Eu quero imaginar o tempo com fendas, bosques cheios de lobos e pântanos frios à meia-noite. Sonho com pessoas que não precisam fazer sexo para saber que se amam. Sonho com pessoas que só nos beijariam no rosto."
Página 81

      Escrito em primeira pessoa, Brunt cria um enredo muito profundo - tão profundo que, às vezes, parece que estamos a quilômetros de distância da realidade! - e todo o tempo acompanhamos o desenrolar dessa história sob o ponto de vista de June Elbus. Com singeleza somos levados a conhecer essa garota tão ingênua e, ao mesmo tempo, muito consciente de sua imaturidade, destrinchamos os medos de June, e até mesmo os de Greta.



      Aliás, vou me permitir ser do contra e dizer que, de todos os relacionamentos explorados nessa história, o das irmãs foi o mais bem construído. Ao longo das 464 páginas, o leitor consegue desvendar o motivo de tanta hostilidade entre Greta e June. A princípio tudo parece muito normal, coisa de irmãos. Mas, aos poucos, conseguimos perceber nuances de sentimentos escondidos, ressentimento de eventos passados, e a progressão da leitura nos leva a amar essas duas irmãs, nos leva ao ponto de desejar ardentemente que elas se entendam, que sejam amigas como tio Finn e a mãe delas um dia foram.... Antes de tudo acontecer.

"... São as pessoas mais infelizes que querem ficar vivas, porque acahm que não fizeram tudo o que querem fazer. Acham que não tiveram tempo o suficiente. Acham que ganharam menos do que mereciam."
Página 265
     Com cuidado e sentimento, Carol Rifka Brunt conseguiu construir uma obra de partir o coração, só pra depois tentar colá-lo de novo.A maneira como a autora conduziu a história, fazendo-a girar em torno do quadro pintado pelo falecido tio, foi digna de respeito.

      Tenham uma ótima leitura! Fiquem na Paz!

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Base feita por Adália Sá | Editado por Luara Cardoso | Não retire os créditos