Dica de Leitura #2

Essa obra-prima foi, sem sombra de dúvida, a responsável pelo meu gosto de leitura.
Eu nem era gente ainda, tinha, o quê?, sete anos. Até essa idade eu lia histórias que boa parte da criançada costuma ler: gibis, histórias ilustradas do Sítio do Pica-Pau Amarelo, coisas do gênero. Eu não era um comedor de livros... Até o Meu Pé de Laranja Lima.

Um dia, assim, como se, de repente, o mundo conspirasse ao meu favor, minha tia (valeu, tia Nina) me apareceu com esse livro. Pediu que eu o lesse e, quando terminasse, explicasse o que entendi.


Óbvio, não pretendo 'resenhar' baseado no que li há mais de treze anos. De jeito nenhum eu faria isso. Na verdade, eu comprei ‘Meu Pé de Laranja Lima’ ano passado, li e, como antes, fiquei tocado com a história de Zezé, o protagonista dessa história.


“O menino Zezé tem o próprio Diabo como padrinho. Só pode ser”, diziam todos. O menino era danado de bagunceiro, tinhoso de dar dó. Ele próprio reconhecia isso vez ou outra. Claro, era apenas uma tática para culpar o próprio ‘padrinho’ por induzi-lo a cometer suas peraltices... Mas, afinal, que criança nunca deu uma bela de uma pisada na jaca (ou jacá, para os conservadores)?

Mas para Zezé ser criança nunca foi fácil.


Anos 50. Filho de pais humildes, contava ainda com uma penca de irmãos. Sua mãe era operária de uma fábrica, já o pai estava desempregado. Quando eu era criança não consegui imaginar essa situação, mas hoje percebo muito bem. Imagine um pai da década de 50 ser sustentado pela esposa, bem como os seus filhos. Imagine, para um homem daquele tempo, como era difícil viver com essa condição. José Mauro de Vasconcelos aborda muito bem esse aspecto social, o que torna a obra ainda mais fiel à realidade da época.
De todos os irmãos, Zezé gostava mesmo era de Glória, ou Godóia (como ele gostava de chamá-la), uma irmã que servia, não apenas de amparo, como também uma defensora declarada. Mas a paixão do menino era seu irmão mais novo, o pequeno Luisinho, o Rei (apelido dado pelo próprio Zezé). Luis era centro de toda adoração de Zezé. Este, a todo custo, tentava proteger a inocência do caçula, seu mundo de fantasias, e manter o irmãozinho o mais ignorante possível acerca da triste realidade vivida pela família. Essa relação fraterna é, pra mim, o ponto alto da história, pois, diante de Luis, Zezé não é apenas uma criança, mas um adulto que precisa arcar com algumas responsabilidades.

Zezé trabalhava de sapateiro. Jogava sua caixinha de madeira nas costas e fazia o seu trabalho.
A vida, que não prometia boas coisas para o menino, concedeu-lhe uma mudança forçada. Sim, ele e sua família precisavam deixar a casa em que moravam. Zezé não ficou feliz, mas tinha Godóia e o Rei para ajudar em sua transição.
Na nova casa Zezé acabou se apegando a um pé de laranja lima, e Glória, para reforçar esse trunfo da frágil felicidade do irmão, falou que, assim como Zezé, a pequena árvore cresceria. A plantinha no quintal representava o resgate da infância de Zezé, um garoto esperto que aprendeu, talvez cedo demais, como a vida pode ser difícil e sem tantas magias.
Zezé batizou, então, seu mais novo amigo de Minguinho (ou Xuxuruca) e, juntos, passavam boa parte do tempo em um mundo sonhador, brincando e trocando segredos. Minguinho tornou-se o conselheiro e confessor de Zezé, um companheiro para todas as horas. Tamanha cumplicidade que apenas uma criança poderia compreender.   
Mas Zezé não perdeu o gosto pelas suas peraltices durante suas andanças na rua. De jeito nenhum!
Numa dessas andanças ele conheceu o Portuga Manuel, um português que se revelou mais do que um velho “filho da puta”, como o próprio Zezé gostava de dizer quando não podia ser ouvido pelos mais velhos. Manuel mostrou ao menino um outro mundo... Um mundo que, caro leitor, se você se entregar a essa história, também conhecerá.

José Mauro de Vasconcelos deve ser aplaudido de pé, pois criou uma obra a ser apreciada e, melhor, uma obra nacional, com a ambientação de nosso querido país, com as mesmas cicatrizes e desigualdades, tão bem conhecidas por todos nós.

Não posso, nem devo, revelar mais do que isso. Mas posso dar uma dica: não leia a dedicatória sem, antes, terminar todo o livro. Preencha a sua mente e o seu coração com a vida vivida por Zezé, as pessoas que passaram pelos caminhos do ‘afilhado do demo’, perceba como a criança vê o mundo. Só, então, permita-se ler a dedicatória... Depois disso, diga-me o que sentiu. Está tudo bem se você chorar.

Zezé, um grande abraço, menino!

3 inspirações:

  1. Nunca li Meu pé de laranja lima, mas me lembro de ter assistido uma novelinha na Band baseada no livro, sempre esperava chegar o final da tarde para conferir, não perdia nenhum espisódio...

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  2. Li o livro quando era mais nova, tinha uns 11/12 anos, e chorava a cada acesso de fúria do pai do Zezé =( Sua resenha trouxe minha vontade de reler o livro e, com certeza, chorar ainda mais! :')

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  3. Nossa li esse livro com nove anos e ainda me lembro da sensação que tive depois de lê-lo, foi a primeira história que realmente me marcou, a primeira que me deixou triste e zangada ao mesmo tempo. Os personagens são tão reais que permaneceram comigo, como se realmente existissem. Acho que o livro deveria ganhar muito mais credito pela incrível obra, não tem o reconhecimento que merece e muitos nem sequer imaginam o quanto ela é especial.

    Bela resenha, vou reler quando tiver a oportunidade com certeza!! =D

    Abraços!!!

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